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‘’Timeshare é um produto de crise e não será diferente neste momento’’

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Entrevista com Fernando Martinelli, diretor executivo da Interval International no Brasil
O diretor executivo da Interval International no Brasil, Fernando Martinelli, conta o posicionamento da intercambiadora de férias internacional neste momento de pandemia da Covid-19 e também aponta caminhos para a crise que virá em seguida


Qual a posição da Interval International com a pandemia?

Para a Interval, o impacto foi forte, como todos os players de turismo em quase todo o mundo. Tivemos que ter muito jogo de cintura com realocações de reservas, remarcações, etc. Foi um momento de criar novas regras de cancelamento, de depósitos de semana e utilização. Este é um momento único na história e nós estamos fazendo todos os nossos esforços para que nossos sócios possam se planejar e não sejam prejudicados. Temos contado com muito apoio dos parceiros hoteleiros, principalmente aqui no Brasil, e isso nos deixa seguros das parcerias sólidas que criamos por aqui.

A Interval oferece algum tipo de suporte para as empresas parceiras?

Estamos trabalhando muito de perto com nossos parceiros para lhes auxiliar no desenvolvimento de estratégias diversas, principalmente no ambiente virtual, vendas on-line, treinamentos por vídeos conferências. Entendemos que nossas plataformas, como nosso site e aplicativos, são ferramentas eficazes no processo de venda e podem ser utilizadas neste ambiente virtual com facilidade. Além disso, estamos compartilhando com nossos parceiros todas as recomendações e ideias para este “novo mundo” que vamos ter daqui para a frente.

Em relação as reservas de viagens, como a Interval está trabalhando?

Alteramos algumas políticas de cancelamento para que os clientes não fossem tão prejudicados. Para clientes que tiveram suas reservas canceladas e não obtiveram reembolso, nós cedemos um certificado para uso dentro de 12 meses, por exemplo. Não estamos aceitando depósitos de semanas em hotéis que estão fechados, mas estamos trabalhando próximo dos hotéis para tentar minimizar os impactos para nossos sócios.

Qual a sua visão para que as operações de tempo compartilhado consigam se recuperar o mais rápido possível?

Este é um momento crítico, mas também onde surgem as oportunidades, uma delas é no ambiente on-line, as empresas tiveram que migrar para este ambiente e isso será muito benéfico, este é um caminho sem volta. O mercado de tempo compartilhado em muitos aspectos operava nos mesmos modelos da década de 1970 e essa situação está fazendo com que as empresas se reinventem. Obviamente que o impacto poderá levar muitas empresas à falência, mas quem conseguir se adaptar sairá muito mais forte. Além disso, agora mais do que nunca, é a hora das empresas investirem pesado em relacionamento com o cliente, as empresas que simplesmente estiverem enviando boletos, sem se preocupar em criar um relacionamento com seus clientes certamente estarão em maus lençóis. Este é o momento de estreitar a relação, afirmar os valores que levaram o cliente a fazer a compra. Na hora da venda se promete muita coisa, atendimento diferenciado, facilidade de uso, etc, agora é hora de mostrar isso na pratica.

Você sempre teve uma visão crítica sobre muitos processos no tempo compartilhado, da resistência das empresas de evoluírem em certas práticas. Com este momento de isolamento, os players entenderam que precisam mudar alguns conceitos do negócio. Quais mudanças poderemos ver no tempo compartilhado após a pandemia, em toda a cadeia do negócio: desenvolvimento de produto, estudo de viabilidade, captação de clientes, vendas, pós-vendas, entrega do produto, funding e intercâmbio de férias?

A primeira é mais evidente é a migração para os modelos de vendas on-line, como é feito em qualquer atividade hoje em dia, li uma matéria recentemente que foram criadas mais de 100 mil empresas de comércio on-line em 45 dias no Brasil, isso é muito relevante.
 
Quanto ao desenvolvimento do produto, não vejo muita mudança. Talvez os empreendedores percebam mais os riscos altos de grandes empreendimentos, pois situações como essas fogem do controle do administrador. Quanto maior o desafio, maior o risco. Em um cenário com o de hoje, o impacto pode ser fatal. Torço para que empreendedores comecem a fazer projetos mais moderados e menores, com menos risco e rapidez na entrega, mais fácil de se controlar e parem de pensar apenas no VGV.
 
Pós-venda e entrega do produto serão de crucial importância, a crise maior não é agora, o impacto econômico demora para aparecer e haverá muito distrato e inadimplência, será um momento de aproximação com o cliente.
 
Funding é um assunto interessante. Com a queda dos juros as operações tendem a ficar mais baratas. Com a alta do dólar, o Brasil fica barato para fundos internacionais investirem aqui, principalmente fundos que emprestam dinheiro. A questão é se isso chegará efetivamente na mão do desenvolvedor com taxas atrativas.
 
Em relação ao intercâmbio, essa continua sendo a forma mais barata de se viajar com muita qualidade. O que as pessoas mais desejarão fazer ao final dessa pandemia será viajar.
 
Acredito que as empresas de intercâmbio serão beneficiadas no curto médio prazo. Quem comprou suas férias futuras com um timeshare ou uma multipropriedade, teoricamente, tem suas férias garantidas para a vida ou por bons anos. Timeshare é um produto de crise e não será diferente neste momento.
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