“O Thermas sempre tem novos projetos, temos obras para até 2030”, afirma Jorge Noronha, presidente do Thermas dos Laranjais, parque aquático em Olímpia (SP), em entrevista ao Turismo Compartilhado. Quarto parque mais visitado do mundo e número um na América Latina, o Thermas dos Laranjais também é referência quando se trata de novidades em equipamentos aquáticos, sempre desenvolvendo atrações únicas no Brasil é mundo.
Ao longo de 2024, o parque irá inaugurar a atração Nações, um toboágua com descida de seis pessoas em uma boia; a expansão da sua área infantil com réplicas de suas principais atrações; em 2023, o Thermas inaugurou o Hidro Spa, uma piscina inspirada na Grécia destinada ao relaxamento. Além do projeto do novo parque temático, na área recém-adquirida pelo Thermas, um parque aquático ecológico.
Para falar os bastidores do desenvolvimento das atrações, do turismo e hotelaria de Olímpia e também um pouco da história do Thermas, conversamos com Jorge Noronha, atual presidente e arquiteto responsável pelo master plan original do parque aquático.
Como entrou no projeto do Thermas dos Laranjais? Qual era o projeto inicial e como se desenvolveu para o que é hoje?
Estou no Thermas desde 1983. Tinha 24 anos. O sr. Benito Benatti (fundador e presidente de honra do parque aquático) queria fazer um novo clube social para a Olímpia e pediu para três arquitetos apresentarem seus projetos. O meu foi o vencedor. Eu apresentei um projeto diferenciado para um clube social.
Eu projetei um rio lento e uma piscina de ondas sem nunca ter visto as atrações. Depois, certa vez, um amigo do sr. Benattti contou que tinha conhecido uma piscina de ondas em um parque de Orlando. Era o Wet ‘n Wild. O sr. Benito me enviou para Orlando para conhecer o projeto.
E então, começamos a viajar para o exterior para ver o que tinha lá fora para trazer para o Thermas. Em um primeiro momento, apenas eu viajava. Depois, deslumbrado com as atrações e falando os brinquedos que tínhamos que desenvolver em Olímpia, mas o sr. Benatti não entendia e passou a ir comigo para as viagens. E foi um encanto geral. Após isso, ele profissionalizou a sua empresa de desenvolvimento de fios e cabos elétricos, deixando a gestão da companhia para se dedicar ao Thermas. Ele dizia: “meu negócio agora é fazer parque, vamos fazer as pessoas felizes”.
Como foi o crescimento do Thermas, já que naquela época a principal atividade econômica de Olímpia era a agricultura e quase não havia turismo e hotéis?
Quando desenvolvemos nossas próprias atrações, como o rio lento e a piscina de ondas, começamos a divulgar o Thermas dos Laranjais, porém, as pessoas vinham para cá e dormiam em hotéis em São José do Rio Preto. Assim, passamos a buscar empreendedores para lançar hotéis na cidade, pois não era a nossa expertise. Foi quando o sr. Benito partiu para Caldas Novas (GO) e convidou empreendedores para construir hotéis em Olímpia, e muitos foram lançados, como Olímpia Park e Royal, iniciando o boom do turismo na cidade e, de uma forma geral, o Thermas também começou a aparecer mais dentro do cenário turístico do Brasil
Quais desafios nestes primeiros anos de Thermas na contratação de mão de obra em Olímpia?
Foi muito complicado no início, pois só nós sabíamos o que era um parque aquático e fazer as pessoas entenderem isso era um desafio. Foi um desafiador até mesmo para a cidade, que foi aprendendo a lidar com os visitantes. O que antes era visto como um incômodo, hoje todos enxergam como solução.
O país passando por várias crises ao longo desses anos, e a cidade de Olímpia não, pois sempre precisávamos de mão de obra para a parte de entretenimento e parques, e hoje, também para a hospitalidade.
Alguns colaboradores trouxemos de fora. Para alguns cargos tivemos que nos reinventar aqui dentro. Demos muitos cursos para preparar nossos colaboradores. Não apenas para atender a parte de parque, mas também para a hotelaria. O Thermas oferece cursos, junto a uma associação da cidade, de barman, coquetéis, camareira, etc.
Como o Thermas dos Laranjais desenvolvia os projetos e fabricava os equipamentos? Utilizava fabricantes nacionais ou internacionais?
Em um primeiro momento, tudo era fabricado em Olímpia. O que víamos fora, procurávamos fazer aqui. Montamos uma fábrica de boias. Equipamentos da piscina de ondas, equipamentos mecânicos, criamos uma ferramentaria dentro do Thermas dos Laranjais, aproveitando a expertise do sr. Benito com indústria, com uma seção para criar fibras de vidro para os primeiros toboáguas
À medida que fomos crescendo e recebendo mais visitantes, também precisávamos expandir com nossas atrações, assim, começamos a optar por empresas estrangeiras para desenvolver os projetos.
A indústria nacional ainda não fabrica o que precisamos, as empresas nacionais ainda estão engatinhando nesse ramo de fabricação de brinquedos para parques. Uma das coisas que sonhávamos era trazer empresas que fabricam equipamentos para parques aquáticos para a cidade de Olímpia. Nós temos várias patentes de brinquedos que até ofereceríamos para essas empresas, caso viessem para cá. E um projeto do Thermas ainda hoje, distribuir essas patentes para empresas de Olímpia.
O Thermas é conhecido por ter equipamentos diferenciados e únicos no Brasil e mundo, de onde vem a inspiração para desenvolver essas atrações?
O Thermas dos Laranjais sempre teve como ideal fazer brinquedos diferentes. Não queríamos que as pessoas quando visitassem o Thermas já tivessem conhecido aquelas atrações em outros parques. Fomos o primeiro parque aquático a colocar uma atração de zoológico. Tivemos nosso rio lento com equipamentos fabricados totalmente dentro da cidade de Olímpia. Tivemos a primeira piscina de surf 180 º do mundo; o Rio Selvagem, primeiro rio rápido em um parque aquático no mundo. Também a primeira montanha-russa aquática do Brasil e América Latina, com equipamentos do México, mas o mecanismo de funcionamento foi feito dentro do Thermas, e muitas outras atrações.
Do ponto de vista de desenvolvimento e engenharia, qual atração ofereceu o maior desafio?
A montanha-russa foi um desafio muito grande. Em todos os parques em que há montanhas-russas aquáticas, as boias sobem pela esteira e descem normalmente pela calha. Desde o início quisemos fazer diferente: empurrar a boia para cima! Tínhamos um lago dentro do parque e montamos um protótipo, para fazer testes com os funcionários, foi difícil fazer a boia subir. Nós desenvolvemos todo o equipamento, que bomba deveria utilizar, como injetar água na calha.
Recentemente, foi divulgado que o Thermas dos Laranjais planeja construir um hotel. Por que desenvolver um empreendimento hoteleiro após muitos anos de sucesso no modelo de negócio de parque e entretenimento?
No Thermas dos Laranjais somos focados em fazer o que mais sabemos, desenvolver brinquedos aquáticos. Mas é uma tendência natural ter o nosso hotel temático. É um modelo já consolidado na Universal e Disney, e funciona muito bem para eles. Pode funcionar bem aqui também. Esse hotel será na nossa nova área, em que também teremos um parque temático ecológico, também voltado para equipamentos aquáticos.
Desde que os empreendimentos de multipropriedade foram lançados em Olímpia, o Thermas dos Laranjais sempre teve uma relação muito próxima aos incorporadores dos projetos, e há uma sala de vendas dentro do parque aquático. Com tem sido essa experiência de ter esse espaço de multipropriedade no Thermas?
A experiência é positiva. O modelo de multipropriedade se desenvolveu muito na cidade de Olímpia. A sala de vendas dentro do parque causou um pouco de transtornos. O nosso visitante se sentia muito constrangido, pois era abordado fora e dentro do parque. Nós gostaríamos que tivesse uma abordagem mais tranquila. Como temos um relacionamento excelente com o pessoal da sala de vendas, montamos um esquema com pulseira para não abordar mais. Quem está com pulseira não é abordado.
Por já ter essa experiência com multipropriedade e em Olímpia ter muitos empreendimemtos no modelo, o Thermas pensa em desenvolver o hotel temático neste modelo compartilhado?
É uma tendência. Eu, particularmente, penso que não deveria ter todas as unidades na multipropriedade, mas algumas sim. Acho que isso daria uma opção para que as pessoas saiam de suas casas para viajar, tendo o gostinho de falar: “vou para a minha casa de praia ou casa de férias, vou para a cidade de Olimpia”.
Como o Thermas financia seus projetos? Com capital próprio, buscando fundos ou linhas de investimentos?
O Thermas dos Laranjais sempre trabalhou com capital do caixa. Nunca pegamos um financiamento. Todos os brinquedos que desenvolvemos foram muito bem planejados em termos de custos e investimentos. Se precisar, podemos esperar um ou dois anos para construir a atração.