Empresa seguradora de crédito analisa a retomada do setor de acordo com ritmo de vacinação pelo mundo e os impactos de crises anteriores
Enquanto os governos correm para conter novas e mais contagiosas variantes da Covid-19, “passes de viagens” ou “passaportes de vacina” não serão suficientes para reviver o turismo: a indústria só poderá ver uma recuperação em 2024. A análise é do time de economistas da seguradora de crédito Euler Hermes, que determinou o ritmo de recuperação examinando dois principais pontos: 1) quanto tempo os países podem levar para alcançar a imunidade em massa e 2) as lições de recessões econômicas anteriores.
Enquanto os Estados Unidos (EUA) e o Reino Unido estão a caminho de alcançar a imunidade coletiva até o final do primeiro semestre de 2021, a previsão é que a União Europeia (UE) alcance a vacinação geral no segundo semestre desse ano e o Japão no primeiro semestre de 2022 (Figura 1).
“Isso pode impedir que pessoas desses países visitem os Estados Unidos ou o Reino Unido sem documentos que atestem sua saúde. Ao mesmo tempo, é importante notar que a maior parte das vacinas disponíveis não evita que as pessoas vacinadas contaminem outras, especialmente, aquelas que ainda não receberam as doses necessárias. Isso também pode complicar a recuperação do setor”, explica Marc Livinec, consultor setorial da seguradora. Já na China e África do Sul, a imunidade em extensão será alcançada só no segundo semestre de 2022.
América Latina
A América Latina se destaca como retardatária na corrida da vacinação. O atraso no alcance da imunidade de rebanho é causado principalmente por dificuldades em obter vacinas convencionais e mais baratas, como a chinesa CoronaVac, e por problemas na entrega do imunizante, especialmente no Brasil. A região também tem que lidar com a relutância da sua população em ser vacinada.
Gastos com viagens turísticas
A Euler Hermes também analisou quanto tempo levou para os gastos com viagens turísticas se recuperarem após crises econômicas anteriores. Depois das duas últimas crises (os ataques de 11 de setembro e a Crise Financeira Global de 2008-2009), os gastos com viagens (turismo e negócios) voltaram ao nível pré-crise dois, senão três anos, após o início (Figura 2). No primeiro caso, a fragilidade da demanda reprimida determinou o tempo de recuperação devido aos temores da segurança. No caso da segunda, o obstáculo à recuperação teve mais a ver com a necessidade repentina de financiar enormes déficits e colocar o dinheiro de volta no motor econômico.
“Se considerarmos que a atual crise econômica começou no primeiro trimestre de 2020, isso significa que os serviços globais relacionados ao turismo e as atividades de viagens podem voltar aos níveis anteriores à crise a partir da segunda metade de 2022”, afirma Livinec.
No entanto, o economista ressalta que a Covid-19 gerou uma crise econômica sem precedentes, com grandes medidas de contenção por meio de quarentenas, regras de restrição de viagens muito rígidas e toques de recolher, que ainda afetam a circulação de muitas pessoas em países maduros e ricos. Como resultado, ele acredita que as chances de uma recuperação acelerada no turismo são muito improváveis no próximo ano.
Figura 2: Impacto de crises anteriores no setor de turismo internacional e viagens
A seguradora analisa que a Europa pode ver uma recuperação do setor mais rápida do que os EUA e a Ásia, com 771 milhões de chegadas esperadas em 2024 – mais do que o triplo do recorde de baixa de todos os tempos em 2020.
Regressando os dados de chegada de turistas de 1980 a 2018 no PIB correspondente das regiões, a Figura 3 mostra o número estimado de turistas esperados até 2024.
A tabela acima mostra, à esquerda, as estimativas da Organização Mundial do Turismo (OMT) de chegadas de turistas internacionais entre 2017 a 2019. A partir de 2020 estão as projeções da Euler Hermes,
Retorno à normalidade
Os resultados apoiam a conclusão de que o retorno à atividade normal de viagens turísticas não ocorrerá antes de 2023. Uma pesquisa recente da OMT com profissionais de turismo reafirma esses resultados: a maioria disse que não esperava um retorno aos níveis pré-pandêmicos antes de 2023, na melhor das hipóteses. 41% dos entrevistados disseram que esperam o retorno ao normal apenas em 2024 ou mais tarde (Figura 4).
Na distribuição do número de turistas por região, a Europa estará à frente da curva, embora se espere que fique atrás dos EUA e da APAC na recuperação econômica geral. Os cálculos mostram que as chegadas de turistas internacionais à Europa podem chegar a 771 milhões já em 2024.
“É provável que a Europa veja maiores chegadas de turistas do que as outras regiões porque sofreu a maior queda em termos absolutos em 2020, com ~500 milhões de turistas internacionais a menos. Além disso, esperamos que os países da União Europeia trabalhem juntos para alinhar melhor o levantamento das restrições a viagens: a Europa tem muito a ganhar em termos de renascimento do turismo se puder propor uma solução válida de passaporte/cartão de vacina”, complementa Livinec.
A Figura 5 mostra o atual nível de rigor das restrições em todo o mundo. A Europa ainda é a região mais restritiva em quase 10 pontos em relação à América do Norte e 20 pontos em relação à Ásia. Os atuais níveis de turismo dependem muito deste índice e, o fato de a Europa ser a região mais exigente, explica porque o turismo foi mais atingido nesta região. Neste contexto, se os passaportes de vacinas fossem implementados na mesma altura em todas as regiões, o turismo aumentaria mais na Europa.
Na verdade, a Comissão Europeia está trabalhando na ideia de passaportes de saúde para aliviar as restrições de viagens no próximo verão do hemisfério norte. No entanto, dois fatores serão decisivos: 1) a eficácia das vacinas na prevenção da transmissão e 2) a implementação de políticas. É provável que os países da UE tenham uma vantagem, uma vez que o bloco partilha do mesmo banco de dados (tal como partilham dados econômicos através da Eurostat, por exemplo).
Ásia e Américas
A recuperação do turismo global também pode sofrer com restrições prolongadas de viagens na Ásia e nas Américas devido ao surgimento de novas variantes para as quais as vacinas disponíveis parecem ser menos eficientes. Prevê-se que o número de chegadas de turistas nestas regiões atinja 326 milhões e 136 milhões, respetivamente, em 2024. A distribuição por regiões mostra que a quota do mercado europeu, em termos de número de chegadas de turistas, deverá aumentar para 55% em 2024, em comparação com 51% em 2019, enquanto na América do Norte permanece a mesma (cerca de 10%) e na Ásia diminui de 25% para 23%.
Turismo doméstico
Ao olhar para os diferentes subsetores, a seguradora descobriu que o lazer doméstico pode estar de volta aos trilhos em 2022. Mas isso não compensaria as perdas das viagens internacionais e de negócios (mais lucrativas), que ainda podem sofrer até 2023. Os turistas domésticos geralmente não gastam tanto dinheiro quanto os internacionais, mas espera-se que o segmento de viagens internacionais ainda seja -8% menor do que seu nível pré-crise, mesmo em 2023 (Figura 6). O aumento do desemprego também agravará o problema, com os consumidores provavelmente reduzindo seus gastos em atividades relacionadas ao turismo.
Em suma, a Euler Hermes estima que pandemia vai continuar afetando o setor por mais um longo período, forçando o turismo e os atores relacionados a viagens a transformar seus modelos de negócios.
Fonte: Race Comunicação