Coopetição em Foz do Iguaçu: pesquisa propõe integração entre hotéis com foco na sustentabilidade social

* Artigo de Lucimara Castro

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Prof. Dr. Cláudio Alexandre de Souza, Lucimara Castro e Kenji Cascais Takao, Gerente Geral do Wish Resort Golf Convention Foz do Iguaçu

Foz do Iguaçu (PR), destino turístico consolidado no Brasil e no mundo, é também palco de uma iniciativa inovadora que une concorrência e colaboração em nome da sustentabilidade social. Essa proposta foi o foco da pesquisa de Mestrado Profissional defendida por Kenji Cascais Takao, Gerente Geral do Wish Resort Golf Convention Foz do Iguaçu, pelo Programa de Pós-Graduação em Tecnologias, Gestão e Sustentabilidade (PPGTGS), da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.

Sob orientação do professor Dr. Cláudio Alexandre de Souza – referência nacional em estudos sobre turismo, hotelaria e responsabilidade social empresarial – o trabalho intitulado “Coopetição entre meios de hospedagem do município de Foz do Iguaçu com vista à sustentabilidade social” investigou como hotéis localizados na Avenida das Cataratas, principal corredor turístico da cidade, podem atuar em conjunto para gerar impactos positivos na comunidade local.

Concorrentes que cooperam

O termo coopetição – união entre cooperação e competição – foi o ponto de partida para a criação de um grupo de trabalho com cinco meios de hospedagem localizados na avenida. Mais do que competir por hóspedes, esses empreendimentos passaram a compartilhar objetivos e recursos em ações conjuntas voltadas ao bem-estar social da comunidade iguaçuense.

A pesquisa, de caráter aplicado, participativo e exploratório, envolveu desde o mapeamento dos hotéis da região até a mobilização de suas lideranças. O resultado? Uma série de iniciativas colaborativas, como reuniões de alinhamento estratégico, treinamentos integrados entre os resorts e doação de refeições a moradores da comunidade Bubas – localizada a poucos quilômetros dos hotéis e fornecedora de mão de obra para o turismo local.

Além de otimizar custos operacionais, o projeto fortaleceu o relacionamento dos hotéis com os stakeholders locais, ampliando a percepção de valor e o compromisso das marcas com a cidade que as acolhe.

Uma nova agenda para o turismo

O estudo de Kenji traz à tona um tema urgente: a necessidade de romper com uma visão puramente econômica da hotelaria. Ao priorizar o tripé da sustentabilidade – social, ambiental e econômica –, os meios de hospedagem se posicionam como agentes de transformação, capazes de contribuir para o desenvolvimento de destinos mais justos e resilientes.

Essa proposta é particularmente relevante em Foz do Iguaçu, cidade que recebe milhares de visitantes anualmente, mas que ainda enfrenta desafios sociais significativos. Integrar esforços do setor hoteleiro com as necessidades da comunidade pode ser um caminho promissor para fortalecer o turismo como vetor de inclusão e responsabilidade social.

Contribuições práticas

Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (Crédito: Zig Koch/MTur Destinos)

Além do avanço teórico sobre coopetição, a pesquisa apresenta contribuições práticas valiosas para gestores hoteleiros, associações do trade e instituições públicas. O modelo de trabalho em rede desenvolvido no estudo pode ser replicado em outros destinos turísticos do Brasil, especialmente em regiões com alta densidade hoteleira e vocação para o turismo colaborativo.

Kenji destaca que o maior desafio foi quebrar a resistência inicial dos empresários em colaborar entre si. Segundo ele, “a coopetição revelou-se uma estratégia ganha-ganha que beneficia tanto os empreendimentos quanto a comunidade. Ao nos unirmos, conseguimos gerar valor compartilhado, fortalecer o destino turístico e, sobretudo, exercer nosso papel social de maneira mais efetiva”.

Já o professor Cláudio Alexandre de Souza reforça o ineditismo e o impacto da pesquisa, ao afirmar que “essa experiência demonstrou que é possível transformar práticas isoladas em ações integradas com foco social. A coopetição não é apenas uma estratégia de mercado, mas uma resposta concreta às demandas contemporâneas de sustentabilidade no turismo”. Para o professor, esse modelo deve ser explorado por gestores que desejam inovar com responsabilidade.

A atuação conjunta trouxe resultados expressivos: capacitações com apoio da USP-SP, arrecadação de recursos com shows beneficentes, treinamentos em primeiros socorros e doação regular de refeições são apenas algumas das ações concretas realizadas. Essas iniciativas também impulsionaram uma mudança de mentalidade, mostrando que colaboração entre concorrentes é possível e desejável.

Um olhar da banca

A experiência de acompanhar essa pesquisa desde a qualificação até a defesa foi particularmente gratificante. Como professora, pesquisadora e consultora atuante no setor de turismo e hotelaria em todo o Brasil, reconheço o potencial transformador de trabalhos como este. Tive o privilégio de participar da banca examinadora e, mais do que avaliar, pude contribuir com reflexões sobre os caminhos que o turismo sustentável pode trilhar a partir da cooperação estratégica entre os próprios empreendedores.

Como Pós-Doutora pela Unicamp e defensora de práticas colaborativas no turismo, reafirmo: este é um tema que merece ser amplamente debatido, divulgado e replicado em outras regiões e contextos. A coopetição, quando bem estruturada, não apenas fortalece o destino como marca, mas, também, transforma realidades sociais próximas, muitas vezes invisibilizadas pelo mercado.

E você, gestor hoteleiro: está disposto a enxergar seus concorrentes como aliados na construção de um setor mais justo, sustentável e conectado com a comunidade onde atua?

REFERÊNCIAS

TAKAO, Kenji Cascais. Coopetição entre meios de hospedagem do município de Foz do Iguaçu com vista à sustentabilidade social. 2025. 51 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Tecnologias, Gestão e Sustentabilidade) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Centro de Engenharias e Ciências Exatas, Programa de Pós-Graduação em Tecnologias, Gestão e Sustentabilidade, Foz do Iguaçu, 2025.

  • Lucimara Castro é Especialista em Necessidades Educacionais Especiais e Estudos da Linguagem, com carreira educacional na área da comunicação há 20 anos, com experiência prática e de ensino para mais de 10 mil alunos, no ensino superior, pós-graduação e treinamentos. Possui Pós-doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Doutora pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mestra pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Expertise e prática em treinamentos, consultoria e mentoria comunicacional, voltados ao desenvolvimento da linguagem pessoal e corporativa, além de know how há 20 ano, no Ensino e Atendimento Inclusivo.
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