Referência global na indústria de propriedade compartilhada, o mercado norte-americano conta com números consolidados: cerca de 1.500 resorts de timeshare, ocupação próxima a 77% na média do ano, aproximadamente 9,9 milhões de proprietários e 10,6 bilhões de dólares em vendas em 2023. Trazendo o ponto de vista da ARDA (American Resort Development Association) de como a indústria de propriedade compartilhada ainda pode se manter relevante atualmente e o que um mercado em expansão, como no Brasil, pode crescer sustentavelmente, conversamos com o Jason Gamel, presidente e CEO da ARDA.
Como a ARDA contribui para trazer credibilidade e transparência ao segmento de propriedade compartilhada?
A ARDA se esforça para trazer credibilidade e transparência ao segmento alavancando sua posição como “a voz” da indústria, educando e estabelecendo relacionamentos com legisladores do Capitólio às legislaturas estaduais em todo o país, bem como meios de comunicacação e o público viajante, para garantir que a propriedade compartilhada seja reconhecida como um setor-chave da grande indústria hoteleira.
Quanto à defesa em nome dos consumidores de timeshare, a ARDA-Resort Owners Coalition (ARDA-ROC) defende os interesses dos proprietários nos níveis federal, estadual e local, se dedicando a salvaguardar os direitos e o bem-estar dos mesmos através da monitorização legislativa e do envolvimento proativo.
Finalmente, a fim de mostrar o compromisso dos nossos membros com os mais altos padrões e comportamento ético na indústria, fornecemos um padrão de conduta – chamado Código de Ética da ARDA (ARDA Code of Ethics), que todos os membros da ARDA devem concordar em cumprir como condição de adesão. O Código de Ética não abrange apenas requisitos gerais de conduta, mas também exigências específicas que os membros devem cumprir ao realizar transações com consumidores, padrões para divulgação de informações ao público, regras relativas à gestão de resorts, diretrizes básicas para atividades de revenda e diversas outras áreas de conduta do membro potencial.
Quais são os atuais desafios, preocupações e questões enfrentadas pelo mercado de timeshare dos EUA?
O desafio mais comum para o mercado de timeshare dos EUA é encontrar maneiras de proporcionar experiências de férias que atendam às expectativas dos viajantes de hoje. As acomodações espaçosas, que atraíram inicialmente os viajantes para o timeshare, já não são suficientes para as gerações mais jovens, que querem mais do que apenas um lugar para ficar durante as férias. Os principais players da indústria já abordaram esta mudança na procura através de parcerias com marcas de estilo de vida voltadas para o consumidor, oferecendo experiências exclusivas aos proprietários, como concertos, programas culinários, eventos desportivos e muito mais. A capacidade de criar conexões emocionais mais profundas e aumentar a fidelidade dos proprietários através destas experiências únicas e selecionadas será essencial para a diferenciação e o sucesso a longo prazo em um mercado cada vez mais competitivo.
O que o mercado brasileiro de propriedade de férias poderia aprender sobre a experiência e evolução do timeshare nos EUA em relação às revendas?
O foco principal do mercado brasileiro deveria ser facilitar a transferência de propriedade de um proprietário para outro. Um mercado de revenda robusto pode incluir a venda de timeshare de um indivíduo para outro, ou incorporadores e resorts que oferecem aos seus proprietários programas de “retomada”, em que as incorporadoras ou resorts recuperam juros atuais sobre taxas e despesas. Fornecer opções aos proprietários é extremamente importante, visando responder a uma questão muito importante que os eles têm em mente: quais são as minhas opções se a propriedade de timeshare não atender mais às necessidades de férias ou estilo de vida? Esperançosamente, os desenvolvedores no Brasil também estão pensando sobre esta questão e apresentando soluções inovadoras para atender às preocupações dos potenciais proprietários.
Com as novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, e as plataformas online, como o Airbnb e outras, além das mudanças no comportamento do consumidor, como pode a propriedade compartilhada permanecer relevante e continuar a crescer?
No atual cenário digital em rápida evolução, a forma como os consumidores interagem com a tecnologia transformou-se significativamente, criando desafios e oportunidades para indústrias como o timeshare. A chave para desbloquear o crescimento neste novo cenário reside na personalização possibilitada pela tecnologia e na construção de relacionamentos de longo prazo. Ao contrário dos hotéis convencionais, as empresas de timeshare têm à sua disposição uma grande quantidade de dados de consumidores devido às relações de longa data que mantêm com os seus proprietários. As empresas que conseguem aproveitar esses dados de forma adequada para criar experiências verdadeiramente personalizadas podem gerar novos fluxos de receitas e, em última análise, criar uma base de clientes mais leais.
No Brasil, apesar de estar em expansão, o modelo de propriedade compartilhada encontra muita resistência entre empresários do setor hoteleiro e do mercado imobiliário. Que conselhos a ARDA pode oferecer ao segmento brasileiro para atrair mais investimentos em timeshare?
A educação é fundamental para atrair mais investidores para a propriedade compartilhada, porque nem todos compreendem como o produto timeshare é comercializado e vendido. Embora o modelo de timeshare possa parecer complexo, há muitos benefícios num produto de férias que traz visitantes de volta ano após ano, desde oportunidades de vender mais produtos aos atuais proprietários até à geração de receitas dentro e também fora do empreendimento, no destino em que esta localizado.