“A inteligência artificial é o passo adiante do BI (Business Intelligence). Enquanto o BI utiliza os dados da organização para gerar indicadores e dashboards, a IA analisa os dados e sugere decisões. A base da IA são os dados. Mas os dados por si só não fazem a inteligência artificial. A IA está pautada na pergunta que se quer solucionar”, explica o professor Celso Camilo, Mestre e Doutor em Inteligência Artificial e co-fundador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA) da UFG – Universidade Federal de Goiás*.
Às vésperas de embarcar para a 19ª reunião de cúpula do G20, no Rio de Janeiro, Celso Camilo concedeu entrevista para o Turismo Compartilhando sobre os impactos da Inteligência Artificial, em especial para o setor do turismo.
O especialista em IA contextualiza que na prática a inteligência artificial é como um software, uma programação. “Na teoria ela é uma ciência multidisciplinar, junto dela tem robótica, matemática, filosofia, etc, no qual o conceito é a tentativa de simular o comportamento e a inteligência humana”.
Trazendo exemplos práticos da aplicabilidade da IA no turismo, Celso citou alguns:
- No caso do CHURN (métrica utilizada para mostrar o número de clientes que cancelam serviço em um determinado espaço de tempo), é possível analisar o comportamento do cliente e criar um “score” de risco, identificando e classificando os clientes que têm propensão a cancelar. Através dessa classificação, a organização pode antever ações para permanecer com esse cliente na base.
- Na gestão do POOL, é possível utilizar a IA para fazer a previsão de consumo das UH’s a partir do comportamento de utilização dos usuários e entregar soluções para diminuir inventário ocioso, por exemplo.
Para Celso, o setor de turismo, bem como o setor do comércio e serviços, tende a consumir ferramentas de IA com mais rapidez, se comparado a outros setores mais conservadores da economia, pois acompanham muito o consumidor. “Como o consumidor está ávido por tecnologia, especialmente no Brasil, muitas empresas vão acompanhar essa evolução, a exemplo da Netflix e do Ifood, que têm muita IA envolvida”.
Ele destaca que o turismo tem um potencial gigante para evoluir e usufruir da IA, mas ainda não conseguiu colocar isso no seu core. “As pessoas precisam entender que a evolução da tecnologia está totalmente ligada à transformação do negócio, e se souber fazer a empresa vai conseguir sair na frente, entregando valor ao seu cliente e consequentemente recebendo muito valor do seu cliente também”.
De acordo com o especialista em IA, o mundo está caminhando para ser personalizado, o que isso quer dizer? “Vamos sair do modelo P, M, G de roupa, para entregar produtos e serviços cada vez mais personalizados. No setor do turismo, as pessoas não querem viver experiências padronizadas por faixa etária, por sexo. Elas querem viver experiências altamente personalizadas para o seu DNA”, diz ele.
Na história da evolução da economia, as empresas que buscaram escalar seus negócios, tiveram que abrir mão da qualidade, da personalização. “Através da inteligência artificial o ser humano está conseguindo dar escala com personalização, mas muitas pessoas ainda não caíram a ficha, ressalta Celso Camilo.
Obstáculos para progresso da IA
Alguns tabus ainda são obstáculos para o progresso da IA, como por exemplo, a resistência das pessoas em fornecer dados. Porém, o especialista em IA enxerga de forma positiva a troca de dados, “pois os benefícios que determinado aplicativo me entrega justifica as informações que eu cedo a ele”.
Outro tabu que gera questionamentos na sociedade é a exterminação de vagas de emprego devido à substituição de atividade humana pela inteligência artificial. Celso Camilo é enfático ao contextualizar que existem inúmeras vagas de empregos abertas e um número enorme de pessoas desempregadas. “Existem muitas vagas de trabalho abertas por falta de qualificação profissional. Temos que pensar urgente em acelerar a qualificação das pessoas”, afirma ele. “As pessoas precisam entender que o processo de aprendizagem mudou. Antigamente as pessoas iam para uma faculdade, aprendiam um conhecimento, uma habilidade, em seguida partia para o mercado de trabalho. Hoje não funciona mais assim, as pessoas trabalham aprendendo, aprendem trabalhando, no modelo chamado Life Long Learning. Precisamos mudar a mentalidade das pessoas para colocá-las nos postos de trabalho. Tem muitas ofertas, mas poucas pessoas capacitadas ou dispostas a se capacitar. Isso mostra nossa fraqueza de adaptação, de educação e formação”.
Ainda analisando a relação IA e empregos, sobre a forma como as pessoas enxergam a sua relação com inteligência artificial no dia-a-dia do seu trabalho, o professor frisa que a IA está chegando para ajudar e facilitar a produtividade. “As tarefas que exigem otimização e perfeição não são para humanos, os seres humanos são imperfeitos, são imprecisos, esses trabalhos são das máquinas”.
“E o que vai restar para nós, depois que as máquinas assumirem boa parte das tarefas? Restará voltarmos a sermos humano! Iremos parar para refletir: o que minha essência humana entrega de valor para as outras pessoas? Não tem como mais não gerar valor para o cliente, não tem como mais vender a qualquer custo”, conclui Celso Camilo.
- Celso Camilo é Mestre e Doutor em Inteligência Artificial, membro fundador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial, Prof. visitante da Carnegie Mellon University, CMU EUA (2015/2016), Prof. visitante no IITGN – India Institute of Technology (2022), professor adjunto da Universidade Federal de Goiás, delegado do Startup20/G20 e representante do Brasil em diferentes fóruns de inovação. Além disso, é pesquisador, consultor e palestrante. Dentre as palestras, destaca-se a ministrada na NASA (JPL/LA-USA). Coordenou dezenas de projetos de P&D (Academia-Empresa-Governo) nas áreas de Saúde, Jurídico, Ecommerce, Educação, Logística, Vendas e Marketing. No setor público, foi Secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia de Goiânia; e Subsecretário de TI do Estado de Goiás.