Desculpe Guilherme Paulus, temos que te criticar: o senhor não entende o modelo de multipropriedade!

* Artigo de Fábio Mendonça, Diretor de Jornalismo do Turismo Compartilhado

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Guilherme Paulus

Sócio fundador da CVC e um dos principais nomes do turismo nacional, Guilherme Paulus merece todas homenagens, elogios e celebrações possíveis, mas hoje, infelizmente, terei que criticá-lo. Em entrevista ao podcast Nossa Economia, da Rádio Gaúcha e Zero Hora, de Porto Alegre (RS), o empresário mostrou-se ser contrário ao mercado de multipropriedade, falando várias inverdades sobre o modelo de negócios, usando até palavras pesadas como ‘’engana-engana imobiliário’’ e ‘’conto do vigário’’.

Em relação a opinião de Paulus, de gostar ou não gostar do modelo de multipropriedade, ou até críticas ao setor, como as que foram realizadas na entrevista, como abordagem dos captadores de clientes, promessa de rentabilidade, atrasos de obras, etc, não há problemas e é até muito saudável o debate sobre certas práticas, visando o amadurecimento e profissionalização do segmento. 

Porém, muito além das críticas pertinentes, o empresário fez afirmações que não são verdadeiras sobre o modelo de multipropriedade, o que, vindo de um nome como Guilherme Paulus, afugenta investidores e consumidores. 

Uma coisa podemos ter certeza ao escutar a entrevista de Paulus: ele não entende o modelo de multipropriedade imobiliária e turística e apenas transmitiu muitos preconceitos e desinformações sobre o formato fracionado. 

Provavelmente, o fundador da CVC não compreende que quando afirma coisas tão pesadas, como ‘’engana-engana’’, está denegrindo grandes empresas da hotelaria e turismo. Talvez ele não saiba que marcas consolidadas como Laghetto, GAV Resorts, Gramado Parks, MME Hotéis, Hot Beach, Mundo Planalto, WAM Group, GR Group, entre outras, possuem negócios na multipropriedade. Algumas, inclusive, são clientes da CVC. 

A ENTREVISTA

A Walt Disney Company possui o seu negócio de propriedade compartilhada, o Disney Vacation Club

O assunto multipropriedade surgiu quando Paulus defendia a decisão da prefeitura de Gramado de suspender por 180 dias a análise de novos pedidos de construção de empreendimentos, hotéis e restaurantes, ligando esse parecer ao crescimento do modelo fracionado na Região das Hortênsias.

‘’O mundo já teve problemas com as multipropriedades. Já visto em Miami, e mesmo a cidade de Caldas Novas, no interior de Goiás, teve um impacto muito grande,  há vários hotéis que se tornaram verdadeiros cemitérios, empreendimentos totalmente abandonados, não muitos, mas têm”, disse Paulus na entrevista.

De fato, a multipropriedade em outros países (tanto nos EUA, México e Europa) já foi alvo de muitas críticas, mas os players aprenderam a lição, evoluíram os modelos e a forma de comercialização. Hoje, os mercados de timeshare nos EUA e no México são consolidados e bilionários, atraindo grandes marcas, ou alguém irá afirmar que marcas como a Walt Disney Company, Wyndham Hotels & Resorts, Marriott International, Hard Rock International, entre outras, estão fazendo um ‘’engana-engana’’ com os clientes?

Em relação a empreendimentos que viraram cemitérios em Caldas Novas, há sim dois projetos que foram abandonados e, provavelmente, não serão entregues. Mas também há outros prédios do imobiliário tradicional na cidade que viraram cemitérios. Isso tem muito mais a ver com a má gestão das empresas que lançaram do que com o modelo de multipropriedade em si. Lembrando que em Caldas Novas, onde houve a primeira explosão deste modelo, já foram lançados 21 empreendimentos, dois estão paralisados, cinco estão em obras e quatorze estão em operação.

Mas a falta de conhecimento de Guilherme Paulus não ficou apenas nisso. “Isso foi impactado por uma série de empreendimentos que foram feitos e que se vendia primeiramente para 6 pessoas, depois para 12, depois para 24, para 36… Quer dizer, você tem um apartamento de 40 m² dividido com 36 pessoas, é impossível ter esse número, quer dizer, é um engana-engana imobiliário”, declarou ele.

Esse tipo de indagação sobre a multipropriedade, de que vender um mesmo apartamento para mais de uma pessoa não é um negócio honesto, já é bem antiga. Porém, a multipropriedade é regulamentada pela Lei 13.777/18, em que deixa claro que cada proprietário possui uma fração de tempo específica do imóvel, a qual é registrada na matrícula escriturada em cartório. 

“Depois as pessoas não conseguem pagar, tomam multa, e aquele dinheiro fica perdido. Tem várias ações de pessoas que fizeram isso”, continuou o fundador da CVC.

Sobre distratos e multas, os projetos de multipropriedade seguem a Lei 13.786/18, conhecida como Lei dos Distratos, e o Código de Defesa do Consumidor. Todas empresas que vendem um produto ou serviço colocam cláusulas e multas para se protegerem, em caso de cancelamento ou devolução, respeitando a legislação. A própria CVC também tem sua política de cancelamento e penalidades.

Então, com todas essas desinformações ditas por Guilherme Paulus, a apresentadora do podcast, Giane Guerra, também deu o seu ponto de vista negativo sobre o modelo de multipropriedade. ‘’Eu tenho, inclusive, a impressão de que quanto mais se aumenta a inadimplência e distratos, mais se aumenta a ofensiva para vender cotas, o que me passa a sensação de que é uma pirâmide de negócios, de uma pirâmide financeira”.

“Pirâmide Financeira? Engana-engana imobiliário?’’. Críticas difamatórias e sem nenhum fundamento. Isso poderia ser considerado verdade se as incorporadoras não estivessem entregando os empreendimentos. Mas dos 216 projetos lançados, segundo o estudo Cenário de Desenvolvimentos de Multipropriedades 2025, realizado pela Caio Calfat Real Estate Consulting, há 117 em operação. No próprio Rio Grande do Sul, em Gramado e Canela, há pelo menos dez empreendimentos já em operação, a Gramado Parks e a Laghetto possuem três entregues cada uma, e ainda há outros em construção. Há atrasos de obras sim, não podemos negar, mas não por má-fé. Nesses casos, os incorporadores estão buscando funding para finalizar as obras.

“Então, isso é um alerta que a gente tem dado ao público consumidor, aos turistas, não caiam nesse conto do vigário. É um negócio muito ruim para a hotelaria e turismo”, continuou o empresário. 

Já está mais que provado que a multipropriedade nos últimos anos está impulsionando a construção de novos hotéis, parques aquáticos e fortalecimento de destinos. O desenvolvimento desses empreendimentos exige muito investimento e a multipropriedade é uma forma de funding para viabilizar as obras.

‘’A pessoa compra porque se apaixona pelo apartamento, pelo destino, pelas atrações, e fala vou passar minhas férias aqui o ano que vem, mas o turista vai para um mesmo destino de 2 a 3 vezes no espaço de cinco anos, isso é uma pesquisa que temos”, disse Paulus.

Mais um ponto de desinformação sobre a multipropriedade, sobre a pessoa passar férias apenas no destino onde adquiriu sua fração imobiliária. Tenho certeza que Guilherme Paulus conhece bem o modelo de intercâmbio de férias da propriedade compartilhada, já que sua antiga rede hoteleira, a GJP Hotéis & Resorts, tinha um vacation club afiliado à RCI.  

“Eu tenho um imovel que eles prometem que vai alugar, vai dar rendimento e que vai pagar condomínio, mas no fim acaba nem pagando o condomínio, daí a pessoa tem que pagar o condomínio e não utilizar”, afirmou em sua entrevista o fundador da CVC.

A principal finalidade da multipropriedade deve ser férias, mas o proprietário pode sim alugar e ter um rendimento, mesmo que seja para pagar o condomínio. As vendas prometendo rentabilidade alta são muito combatidas em todo o mercado. Agora, em relação aos resultados do pool de locação, cada empreendimento tem o seu, dependendo da gestão, destino e se o proprietário possui semanas de altas ou baixas temporadas. Não temos condição de generalizar dizendo que o resultado do aluguel não paga nem o condomínio.

’E quando ele quer ir, não , já tem uma outra pessoa que fez a reserva’’, completou o empresário. 

Novamente, Paulus entrou na questão de não poder utilizar quando quiser. Realmente, o multiproprietário não pode se hospedar no empreendimento quando quiser, e se ele conhecer bem como funciona as regras do condomínio não terá nenhum problema com isso. O proprietário deve se programar para viajar nas suas semanas, que dependendo do empreendimento podem ser fixas ou rotativas

Além dessa entrevista reverberar de forma negativa entre o setor de turismo, a visão de Guilherme Paulus deve ser um reflexo de como muitos empresários, incorporadores e hoteleiros ainda enxergam a multipropriedade. Cada vez fica mais evidente a necessidade dos players do mercado investirem na educação sobre a multipropriedade para outros nichos do turismo e imobiliário, a fim de quebrarem essa percepções distorcidas sobre o modelo. 

  • Atuando há mais de dez anos na multipropriedade e timeshare, Fábio Mendonça é sócio fundador do Turismo Compartilhado, graduado em Jornalismo, pós-graduado em Jornalismo Literário e MBA em Inovação e Transformação Digital.
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