Os empresários dos ramos de entretenimento, turismo, hotelaria e multipropriedade, cada vez mais, percebem que desenvolver complexos turísticos completos, com hotéis e parques integrados, ajudam na ocupação, para receber mais visitantes, crescer as receitas e ainda na alavancagem financeira para novos investimentos.
A pesquisa “Parques, Atrações Turísticas e Entretenimento no Brasil – Panorama Setorial e Novos Investimentos”, elaborada pela Noctua Advisory, Sindepat e Adibra, apontou que 25% dos complexos de entretenimento do Brasil estão atrelados a negócios de hotéis/multipropriedade E essa proporção tende a crescer, já que o mesmo estudo trouxe que 40% dos novos investimentos em atrações turísticas e de entretenimento têm o componente hotelaria e fracionado integrado ao negócio.
Além de aumentar a ocupação nos hotéis e número de visitantes para parques, a multipropriedade também utiliza as atrações turísticas como âncora de seus projetos, para atrair novos compradores.
“Hoje, 25% dos grupos de entretenimento têm um vínculo com hotéis ou multipropriedades, quando olhamos para o futuro, que dos novos investimentos, 40% estão atrelados. Então, há uma razão para essa sinergia, de potencial agregado, uma tendência de investimento, de incremento, para que o entretenimento ajude no complexo”, avalia Pedro Cypriano, sócio-diretor da Noctua Advisory.
De acordo com Pedro Cypriano os complexos hoteleiros/multipropriedades procuram investir mais em entretenimento para alinhar expectativas entre a venda e entrega com produtos que sejam produtos realmente atrativos. “Se não fizer assim, os indicadores de ocupação e satisfação do complexo vão ladeira abaixo”.
Cases Grandes Lagos e Cataguá
O Grandes Lagos Resort e Parque Aquático e o Complexo Cataguá, em Santa Clara d’Oeste (SP) e Capitólio (MG), respectivamente, utilizam bem essa relação entre multipropriedade e entretenimento. O projeto em Grandes Lagos possui um parque aquático e empreendimento já em operação. O projeto em Capitólio terá um resort fracionado e três parques, sendo que um já foi inaugurado.
Para o CEO do Grandes Lagos e Cataguá, Jorge Abukater, há inúmeras vantagens que essa relação traz para seus complexos turísticos, como atração de mais visitantes/hóspedes. “Os parques são uma das principais atrações turísticas em muitas regiões, incluindo os Grandes Lagos e Cataguá. Quando as multipropriedades atraem mais visitantes para a região, os parques podem se beneficiar com o aumento de receita gerado por esses visitantes. Isso pode resultar em mais investimentos em melhorias nos parques e em mais recursos para a conservação da natureza”.
O CEO dos complexos menciona que parques atrelados a multipropriedade valoriza o preço da fração e as multipropriedades podem usar a presença de parques próximos como um ponto de venda para atrair compradores e investidores. “A proximidade com parques pode ser um diferencial importante em um mercado competitivo. Portanto, a presença de parques é uma vantagem importante para as multipropriedades do Grandes Lagos o Empreendimento Cataguá, trazendo benefícios para proprietários, turistas e investidores”.
Entretenimento “puro-sangue” também é um bom negócio
Pedro Cypriano salienta que, apesar de estar em expansão, não se pode afirmar que o modelo atrelado “multipropriedade/hotéis/parques” seja o melhor negócio. “O entretenimento em si não necessariamente depende de outros negócios, pode ter resultados operacionais atrativos, tanto que atualmente 75% dos complexos de lazer são “puros-sangues”, com grandes grupos empresarias, como Beto Carrero, Thermas do Laranjais, Grupo Cataratas, etc”.
“O que acontece é que quando é atrelado a outros negócios, tem um potencial de alavancagem, tem um potencial de incrementar valor além da operação de entretenimento, e é isso que algumas empresas de hotelaria e multipropriedade estão buscando e enxergaram o potencial de resultado”, explica o sócio da Noctua.
Porém, atrações turísticas também podem alavancar o turismo e hotelaria da região onde estão localizadas, como exemplo que aconteceu em Olímpia (SP), com o Thermas dos Laranjais, e Penha (SC), com o Beto Carrero. “O entretenimento é uma alavanca de desenvolvimento de destinos, tem um potencial de geração de fluxo de visitantes, locais ou de outras regiões”, afirma Pedro Cypriano. “Há dois caminhos, fazer com que os hotéis da região recebam esse fluxo, esse novo investimento, ou pode desenvolver um hotel próprio para captar esse fluxo. Vai depender da estratégia, do know-how e da propensão a investimento do grupo”.
Funding para entretenimento
O setor de entretenimento deverá ter muitos projetos nos próximos anos. O estudo da Noctua identificou que há pelo menos 63 novos projetos de parques e atrações em estruturação, somando investimentos de R$ 9,6 bilhões, em que 41% já estão em construção.
Entre os 63 projetos, ao menos 31 têm abertura programada para este ano e 70% estão atrelados a grupos já consolidados no mercado. Além desse montante, os parques e atrações já instalados têm reinvestimentos da ordem de R$ 3,7 bilhões para os próximos anos e 279 empresas pretendem investir em novas atrações, com novos projetos já aprovados internamente.
“Está na essência do entretenimento investir, ter processos de melhorias de atratividade e inovação, para trazer novidades e continuar gerando desejo de visitação”, frisa Pedro Cypriano.
No Brasil, a buscar pelo capital para investir em parques e atrações não é fácil, pois não há linhas de crédito ou financiamento específico para projetos de entretenimentos ou atrações turísticas. O sócio da Noctua explica que, apesar de algumas regiões do Brasil possuírem mais incentivos, como o Centro-Oeste e Nordeste, ainda é muito complicado ter um financiamento para novas atrações. Assim, a maior parte de investimentos em novos projetos vem da capacidade de geração de caixa do grupo. Segundo o estudo, 7% do faturamento das empresas entrevistadas nos próximos três anos irão para investimentos em novas atrações.
Outro fator, mais recente, que propiciou uma maior força em lançar novos projetos foi o incentivo fiscal do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), uma medida do Governo Federal para ajudar na retomada dos setores de eventos e turismo após a pandemia. “Percebemos que parte dos recursos foi utilizado para novos investimentos. Conduzimos pesquisas em profundida com os principais grupos e ficou claro que o capital próprio e crédito incentivado via Perse viabilizaram os novos projetos”, conta Pedro Cypriano.
As receitas geradas pelas vendas de multipropriedades e também passaportes, ou programas de fidelização para parques, que geram uma antecipação de caixa, podem ser uma opção para financiar novas atrações de lazer. “Tem grupos que têm geração de caixa e utilizam o timeshare/multipropriedade, o que ajuda na estruturação das atrações turísticas e novos investimentos”, diz o sócio da Noctua.
Com a dificuldade de financiamento para o entretenimento, Jorge Abukater, do Grandes Lagos e Cataguá, também confirma que a multipropriedade é importante para alavancar recursos para novas atrações turísticas. “As receitas geradas pelas vendas das multipropriedades podem ser uma importante fonte de recursos para a construção, manutenção e renovação das atrações nos parques aquáticos, além de contribuir para a promoção e a capacitação de funcionários”, conclui ele.