É um fato que empresas ao longo de suas histórias tendem a receber propostas de compra, parcial ou total, sendo negociadas e renegociadas até a finalização do negócio, de acordo com o valor que foi construído no decorrer do seu desenvolvimento e do seu potencial. Tudo muito natural, algumas empresas inclusive são concebidas com objetivo de serem vendidas.
Óbvio que o conjunto de elementos que irão compor a “egrégora”, nos termos que a cultura organizacional deve determinar, envolverá além da teoria experimentada, crenças por ela formada e através dessas crenças diretrizes que guiarão e impulsionarão, força e conhecimento executável, no desenvolvimento do dia a dia da corporação. Envolverá com valores e normatizações, que devem levar a todos que fazem parte e concomitantemente a empresa, a estagnação, declínio ou, ao crescimento em todos os âmbitos necessários.
Em resumo, essas negociações ocorrem com objetivos que podem se diversificar, como por exemplo: a manutenção e continua busca de aprimoramento e ascensão dentro do mercado que está inserida; a sua neutralização para promover alguma outra marca na tomada de alguma fatia do mercado ou exponenciar outros negócios nela inseridos; cisão ou fusão com intuito de aumento e domínio do market share; preparação para se realizar um IPO, entre outros. Em quaisquer alternativas, os compradores assumem responsabilidades com os ativos, com o devido controle dos identificáveis tangíveis, intangíveis e passivos.
Algumas dessas compras acontecem com rapidez, outras demandam maior análise e, no meio dessas negociações, dependendo do tempo necessário para a conclusão do negócio, somado a possível impossibilidade do alto escalão neste meio tempo ditar qual será o destino e o mapa para se alcançar algum destino, empresas podem ter suas estruturas desamparadas de ferramentas fundamentais para a continuidade do trabalho. Contudo, executivos e suas equipes podem se ver à deriva, compelidos a buscar novas oportunidades, devido a fragilidade que a inane de estratégias e recursos junto com a morosidade ocasionam.
Dentro dessa realidade, acredito que qualquer profissional que esteja em uma empresa que passa por um processo de compra e transição de gestão fica ansioso por um posicionamento sobre quais serão os recursos estratégicos que serão adotados para que a empresa mantenha a sua competitividade mercadológica e pela cultura que será adotada pelos novos donos, pois impactará diretamente sua vida profissional, mostrando qual a maneira que a empresa e seus colaboradores transcorrerão os seus percursos. Essa ansiedade não é difícil de entender, já que estão agregados em um organismo que em sua essência, deve entregar e elucidar sua finalidade tanto quanto cumprir com suas obrigações.
Não somente pela espera dos recursos e do mapa, já que é comum, após uma aquisição, acontecer uma reestruturação dentro do que se entendem necessário, mas também pela expectativa da visão que a nova gestão terá sobre cada um dos colaboradores que foram e são importantes para a engrenagem girar.
Uma das primeiras ações pode ser, por exemplo, a mudança do organograma, sendo um dos motivos a adequação deste, dentro do que é possível na previsão de caixa da empresa para a sua subsistência. É comum também que oportunidades sejam geradas tanto para aqueles que permanecerão, quanto para outros profissionais do mercado que se adequarão a continuação ou renovação da cultura da nova/antiga companhia.
Toda cultura norteia a condução, cria e manutene o tipo de envolvimento e comportamento que movimentará uma empresa dentro do seu core business e os colaboradores que operam as suas atividades, gerando uma imagem interna e externa que será digerida dentro desse “universo e sistema que orbita”.
É sabido que toda a cultura de uma empresa vem dos sócios. São sempre os donos que exaltam a cultura organizacional, ditando o presente e o futuro de qualquer companhia, no que tange seu clima e relacionamento em todos os pilares que nela estão inseridos. Os executivos e suas equipes pouco podem fazer a tal respeito.
Um trabalho estruturado em uma cultura sólida também transforma, ou consolida, uma empresa como marca empregadora, fazendo com que tenha suas vagas disputadas entre os melhores profissionais, diminuindo o esforço na contratação e em continuidade na retenção desses profissionais, contribuindo para a eficácia desde a contratação.
Em conjunto a essa base organizacional ao qual falamos, um forte ponto a ser observado quando se desenha, ou redesenha uma empresa, é a formação do time que fará “a banda tocar”. A banda que tocará a partitura dessa “música”.
Os números, por mais que em grandes equações possam no decorrer de sua resolução nublar a visão, são e sempre serão ditadores, por trazerem consigo verdades que, por muitas vezes, a linguística por si só não pode entregar. Em contraponto, não podem ser também com toda a sua intensidade, soberanos por si só, principalmente quando há o envolvimento de pessoas e, consequentemente, sentimentos envolvidos. Guardadas as devidas proporções, o próprio mercado financeiro pela sua composta oscilação e volatilidade é uma prova disso. Por vezes, a notícia de uma mudança em algum campo político, que possa desestabilizar algum setor estável em sua oferta e demanda, movimenta esse mercado rapidamente.
Para se ranquear em qualquer segmento, o estudo de mercado pode ajudar, excelentes produtos também, e até uma boa administração, com processos e estrutura definida de governança, faz toda a diferença, mas o que dita realmente o ritmo do negócio são as pessoas que nele estão inseridas.
Quando se promove a competitividade e produtividade entre seus parceiros, sem perder o olhar nas metas individuais deles, há demonstrações que tudo é mais bem orquestrado. A junção dessas metas individuais quando equalizadas com as necessidades de atingimentos da companhia, edifica a busca pela entrega de resultados e dissemina a celebração das metas da empresa, agregando-se pontos essenciais comuns, de maneira que, aquilo que se expressa positivamente, possa fazer sentido e ser sentido, observado e absorvido. Os “integrantes da banda” diminuem suas preocupações, deixam de olhar para o lado e direcionam todo o seu foco e esforço no desenvolvimento do que deve ser feito, encorpando com mais rapidez a cadência para o alcance dessas necessidades.
Uma cultura organizacional por se dizer salubre, “dentro dos conceitos conhecidos”, organizada e realmente incorporada no dia a dia de uma empresa, torna o ambiente de trabalho positivo, ainda mais quando se busca grandes resultados com grandes margens de receita. Isso aumenta a sensação de pertencimento entre os colaboradores e melhora todos os índices de gestão, além de ditar o “ritmo” a ser adotado com os seus clientes e parceiros em todos os setores, trazendo o engajamento que terá reflexo direto na manutenção e entrega de resultados com solidez e previsibilidade.
Acredito que, vivemos há muito pouco tempo em um mundo globalizado, ou melhor, que há muito pouco tempo, devido ao avanço da tecnologia, iniciou o processo de globalização e muitos dos conceitos, que anteriormente se sobrepunham aos interesses gerais do meio em que estamos inseridos e das pessoas que integram as corporações, não possuem mais a mesma eficiência para sustentabilidade de qualquer negócio, servindo somente de subterfúgio para, de alguma forma, abranger objetivos provisórios e de curto prazo dentro de uma empresa.
Neste novo mundo, “pequenas” informações e atitudes, que podem verdadeiramente interferir no dia a dia daqueles envolvidos pelas ações da empresa, direta ou indiretamente, são transmitidas em micro instantes que em outros tempos seria impossível imaginar. Isso pode originar conclusões e uma possível reação em cadeia, para a própria defesa do mercado e de seus integrantes.
Deste modo, para alcançar melhores conclusões, fortalecendo e agregando conceitos sem percepções geradas no meio da equação, mas no seu resultado em si, os acionistas que irão compor o conselho, e/ou os executivos que assumirão as tomadas de decisões em cenários semelhantes ao descrito (interinos ou definitivamente ocupando uma cadeira), tendo tido acesso a algum tipo de “resumo prévio” sobre os acontecimentos que conduziram, condicionaram e levaram a empresa a obter o seu valor, terão sua maior dignificação quando, com transparência e respeito, trafegarem em conjunto com a “banda que toca”. Porque, por mais que, possa não haver concordância com o que anteriormente foi feito, a banda sempre seguiu e continuará seguindo a partitura escrita pelos seus compositores, e assim seguirá.
E a influência para a tomada de decisão virá dos fatos, por isso, é essencial que analisem com cautela, além das grandes, as “pequenas” informações, já que elas também trarão uma maior assertividade e um verdadeiro empoderamento capaz de engajar a todos.
Com atos coerentes e cadenciados, nasce a oportunidade de se instalar uma cultura sustentável, que deve ser demonstrada desde o primeiro dia de atuação, tanto dos compositores quanto dos maestros, pautados pela ética e competência habitual que, somente os que verdadeiramente entendem onde estão inseridos, terão força para gerir e sustentar qualquer negócio que seja feito de pessoas para pessoas.
- Pablo Andress – Há mais de 20 anos se especializa, acumulando experiência no mercado do compartilhamento. É parceiro da revista Turismo Compartilhado desde a sua fundação. Hoje está como diretor executivo na WAM Comercialização, braço da WAM Group.