Com a crise em sua rota religiosa, moradores esperam que o ecoturismo e turismo de aventura gerem um novo ciclo de desenvolvimento para a cidade
Nós últimos 40 anos, até o final de 2018, a cidade de Abadiânia, com pouco mais de 20 mil habitantes, a 105 quilômetros de Goiânia e a 140 de Brasília, era famosa mundialmente por ser a terra do médium João de Deus e o turismo religioso era a principal atividade econômica da cidade. Com a prisão do líder religioso, Abadiânia viu sua economia arrefecer, mas novos empresários começam a investir na região, no ecoturismo e turismo de aventura, aproveitando as belezas do lago Corumbá IV.
No passado, cerca de 90 a 95% dos turistas tinham motivações religiosas. A cidade chegava a receber um fluxo de até quatro mil fiéis semanalmente, em visita à Casa Dom Inácio de Loyola. Hoje, os registros não contabilizam 150 pessoas. Conforme constatação do prefeito José Diniz, a queda no número de visitantes representou para a cidade o fechamento de dois mil postos de trabalho, relegando cerca de 10% da população ao desemprego.
Por outro lado, a estruturação, em 2006, da Usina Hidrelétrica Corumbá IV, trouxe uma nova perspectiva para o município. Com a formação do lago para o reservatório, com 173km², a cidade acabou ganhando um novo atrativo, que agora passa a ser sua menina dos olhos. Do total, 27,39 km² da área alagada está em Abadiânia. O lago Corumbá IV permite, além dos passeios de barco e lancha, a realização de uma série de esportes náuticos e aquáticos como canoagem, caiaque, standup paddle, wakebord, jet ski, mergulho, pescaria entre outros.
“Atualmente, nosso objetivo é depositar as energias para explorar as potencialidades do Lago Corumbá IV e consolidar o ecoturismo na cidade porque acreditamos que ele trará novas oportunidades de trabalho e renda para a população”, diz o prefeito. O município já pavimentou quase a totalidade da Rodovia GO-474 que liga a cidade ao lago. Dos 23 quilômetros, 19 já estão prontos. O restante está em obras pelo governo estadual.
Outra estratégia da prefeitura são as parcerias com setor privado para o desenvolvimento da região. Um dos projetos que está sendo preparado é o Escarpas Eco Parque, o primeiro com o conceito de ecoturismo no Lago Corumbá IV. Desenvolvido pela Tropical Urbanismo e a Ferroeste, o investimento deste complexo (formado por loteamentos, parque aquático e empreendimento hoteleiro) será de aproximadamente R$ 15 milhões.
Empresários locais migram de atividade
Abadiânia ocupa a 87ª posição no ranking do Produto Interno Bruno (PIB) em Goiás de 2017, e vinha crescendo ao longo dos anos. Em 2018, anterior à denúncia envolvendo o líder espiritual, os negócios locais geraram R$ 2,5 milhões, hoje não passam de R$1,6 milhão. Um dos setores que mais sofreram com a crise foi artesanato. Empresas que atuam na área reduziram o faturamento em 83%.
Com a crise, os moradores já estão mirando nas oportunidades abertas pela movimentação turística no entorno do lago, o que inclui as iniciativas do mercado imobiliário. “Temos visto empresários locais mudarem de área para investirem no comércio de materiais de construção e aluguel de maquinários. Bem como, o interesse de pessoas em se qualificarem para empregarem a mão de obra nos projetos que estão aterrisando na cidade. A transformação da orla do lago em um reduto de lazer e turismo nos permite vislumbrar uma mudança de página na história do município, onde seremos lembrados pelas nossas belezas naturais e pelo acolhimento de nosso povo”, analisa o prefeito José Diniz.
Uma amostra dos efeitos positivos do turismo já é percebida pelos moradores do distrito de Vila Piauí, que fica a 7 quilômetros do lago de Corumbá IV. A região passou a abrigar algumas empresas como padaria e material de construção, que antes não existiam, com objetivo de atender a demanda advinda do aumento do número de pessoas que buscam lazer na região.
Abadiânia também integra o Mapa do Turismo Brasileiro, foi contemplada pelo Programa Mais Turismo, lançado em março pelo Governo de Goiás. A expectativa é que outros investimentos públicos cheguem para desenvolver ainda mais o turismo local.
Fonte: Comunicação Sem Fronteiras